O Pássaro Colorido


Hoje eu estou para os poemas e contos. Quero compartilhar um conto lindo que li em um dos livros de Rubem Alves (pena não lembrar qual), e espero além de partilhar o conto, incentivá-los a ler esse gigante da literatura brasileira. Não vou escrever entre aspas porque não lembro exatamente suas palavras, mas seu conto não sai da minha memória.


Conta-se que uma menina começou uma bela amizade com um lindo pássaro. Todas as noites o pássaro chegava em sua janela, curiosamente colorido. Cada dia de uma cor diferente. A menina encantada com cores tão lindas, perguntou ao pássaro: - Por que cada dia você chega aqui com cores diferentes? O amigo pássaro respondeu: - Minhas penas são coloridas com as cores dos lugares por onde viajo. Quando chego aqui colorido de diversos tons de verde é porque acabei de chegar das florestas da Amazônia; quando chego aqui em tons de laranja, venho dos desertos da África; quando chego aqui  todo branco acabei de chegar das montanhas de gelo do Alaska; e assim por diante. A menina maravilhada com a explicação pede que a cada dia ele conte histórias de onde passou. 
Depois de um certo tempo, apaixonada com seu amigo ela diz: Você poderia ficar comigo pra sempre... o pássaro lhe respondeu: - Não posso ser aprisionado, nasci para ser livre. Mas a menina não entendeu aquela afirmação e quando o pássaro dormiu, depois de contar suas aventuras, ela o pôs dentro de uma gaiola.
De manhã cedo ao acordar o pássaro vê que está preso e, pede à sua amiga para libertá-lo, ao que a menina se opõe, obstinada a manter o amigo sempre ao seu lado.
Com o passar dos dias as penas do pássaro começam a perder suas cores, em lugares do verde, amarelo, vermelho, azul, laranja... cores vivas e alegres, sua penas começam a ficar acinzentadas num tom sombrio e triste; sua alegria começa se transformar em uma profunda tristeza. sua amiga percebendo tudo lhe indaga: - Amigo, onde foram parar as cores lindas de suas penas? Por que você está tão triste? O pássaro então responde à menina: - A beleza das minhas cores estão em eu ser livre.
Então, num único gesto de alguém que ama, ela abre a janela da gaiola e deixa o pássaro ir. Ele diz a ela: Quando você sentir saudade saiba que em algum lugar eu estarei recuperando minhas cores. 
E então, imediatamente saiu pela janela e foi embora.  
Dias se passam sem que ele retorne, mas a menina continua a esperá-lo na janela. Até que um dia ele retorna, com sua penas coloridas das mais diversas cores como nunca tinha aparecido. O rosto da menina irradia-se de alegria, agora entendendo a natureza de seu amigo. 
E continuaram felizes assim!
Rubem Alves  

Se o conto não ficou exatamente como o Rubens contou, me perdoem, mas é assim que ele está em minha memória.
Espero que este conto lhe ajude a perceber que precisamos respeitar a liberdade de cada um. Ninguém é completo sendo prisioneiro. O fato de se viver o lado de alguém implica na responsabilidade de se respeitar a liberdade de cada um.

"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Se, pois, o Filho, vos libertar, verdadeiramente sereis livres" João 8.32,36

Comentários

  1. Sim, Maestro!!! Ninguém é completo sendo prisioneiro do outro!!!

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  2. Lindo esse conto do Rubem Alves, está no livro "As mais belas histórias de Rubem Alves". Nos mostra muitas coisas, uma delas é que a liberdade é que nos prende. Tem um trecho muito bacana nesse conto: " O meu encanto precisa de saudade. Se eu não for, não haverá saudade e tu deixarás de me amar". Ou seja, precisamos partir, despedir...

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    1. Rosi. Pode estar nesse livro também, mas não foi nesse que eu li, porque não li esse livro. Eu estou achando que foi no Concerto para Corpo e Alma.
      Obrigado por comentar

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    2. Sim. Eu li neste, mas realmente o conto aparece em outras obras.

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  3. Se apaixonam por nossas cores e depois decidem nos cobrir de cinza. Assim é o ser humano, que acredita ser o outro "propriedade" dele. Bela metáfora.

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  4. Rubem Alves é um clássico. Sempre será ícone da literatura e poesia psicanalista, educador, teólogo, escritor (...) E a licenciosidade poética dele (assim como a nossa) pode tudo. Me pergunto onde está o equilíbrio da liberdade (do alto de quem sabe o que é uma gaiola de ouro) - e em qual momento a cumplicidade se perde no grito de libertar-se. Somos muito duros conosco mesmos e a zona de conforto pode levar a que se morra a cada dia, quase sem perceber. Vou seguir a corrente das cores absurdamente lindas e renovadas em boa companhia e com tanta cumplicidade que os pares se confundam num só!

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    1. Perfeito!!! Nada tenho a acrescentar!!!
      Seus comentários enobrecem e valorizam meu post. Obrigado

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