No Tempo da Minha Infância


Fui criado ouvindo poesia
uma hora era na escola outra outra hora por uma tia
Não era raro ouvir quando eu era criança
poesias declamadas: ...de Mário Barreto França
As moças da igreja, colocadas numa fria
tinham de declamar as.... de Mirtes Matias.
Então segue abaixo um poema de expressão
pra vocês se deliciarem com Ismael Gaião



No tempo da minha infância nossa vida era normal
nunca me foi proibido comer muito açúcar ou sal.
Hoje tudo é diferente, 
sempre alguém ensina a gente que comer de tudo faz mal.
Bebi leite ao natural da minha vaca Quitéria
e nunca fiquei de cama com uma doença séria.
As crianças de hoje em dia não bebem como eu bebia pra não pegar bactéria. 
A barriga da miséria tirei com tranquilidade
do pão com manteiga e queijo hoje só resta saudade.

A vida ficou sem graça
não se pode comer massa por causa da obesidade.
Eu comi ovo à vontade sem ter contra-indicação 
pois o tal colesterol pra mim nunca foi vilão.
Hoje a vida é uma loucura, dizem que qualquer gordura nos mata do coração.

Com a modernização quase tudo é proibido
pois sempre tem uma lei que nos deixa reprimido.
Fazendo tudo que fiz, 
hoje me sinto feliz 
só por ter sobrevivido.
Eu nunca fui impedido de poder me divertir
nas casas dos amigos eu entrava sem pedir.
Não se temia galera, pois naquele tempo era
proibido proibir.

Vi meu pai dirigir, numa total confiança 
sem apoio, sem airbag, sem cinto de segurança
e eu no banco de trás, solto igual aos demais
fazia maior festança.
No meu tempo de criança por ter sido reprovado
ninguém ia ao psicologo nem se ficava frustrado
quando isso acontecia, a gente só repetia até que fosse aprovado.

Não tinha superdotado, nem a tal dislexia
e a hiperatividade era coisa que nem via
falta de concentração se curava com carão
e disso ninguém morria.
Nesse tempo se bebia água vindo da torneira
de uma fonte natural, ou até de uma mangueira
e essa água engarrafada, que diz ser esterilizada
nunca entrou na nossa feira.

Para gente era besteira ter perna ou braco engessado
ter alguns dentes partidos ou joelho arranhado
papai guardava veneno, em um armário pequeno sem chave sem cadeado.
Nunca fui envenenado com as tintas dos brinquedos
remédio e detergentes se guardava sem segredos.
E descalço na areia, eu joguei bola de meia, rasgando as pontas dos dedos.

Aboli todos os medos apostando umas carreiras
em carros de rolimã sem usar cotoveleiras.
Pra correr de bicicleta
nunca usei feito atleta
capacetes ou joelheiras.
Entre outras brincadeiras, brinquei de carrinho de mão,
estátua, jogo da velha, bola de gude e peão,
de mocinhos e cowboys e até de super-heróis que vi na televisão 

Eu cantei cai cai balão, palma é palma pé é pé, 
gata pintada, Se esta rua, pai francisco e de marré.
Também cantei tororó
brinquei de escravos de jó
e sapo nao lava o pé

Com anzol e jereré muitas vezes fui pescar
e só saía do rio pra ir pra casa jantar
peixe nenhum eu pegava
mas dos banhos que tomava
dão prazer em recordar.

Tomava banho de mar na estação do verão 
quando papai nos levava em cima de caminhão. 
Não voltava bronzeado mas com o corpo queimado parecendo um camarão.

Sem ter tanta evolução o playstation não havia
e nenhum jogo de video naquele tempo existia
não tinha video cassete, muito menos internet como se vê hoje em dia.
O meu cachorro comia o resto do nosso almoço
não existia ração nem brinquedo feito osso
e para as pulgas matar, nunca vi ninguém botar
um colar no pescoço
e ele achava um colosso tomar banho de mangueira
ou numa água bem fria debaixo de uma torneira 
e a gente fazia a farra, usando sabão em barra
pra tirar sua sujeira.

Fui feliz a vida inteira sem usar o celular
de manhã ia pra aula mas voltava pra almoçar
mamãe não se preocupava
pois sabia que eu chegava
sem precisar avisar.

Comecei a trabalhar com oito anos de idade
pois o meu pai me mostrava que pra ter dignidade
o trabalho era importante 
pra não me ver adiante pra marginalidade. 
Mas hoje pra sociedade essa visão não alcança
 proíbe qualquer pai dar trabalho a uma criança 
preferem ver nossos filhos
vivendo fora dos trilhos num mundo sem esperança.

A vida era bem mais mansa
com um pouco de sensatez
eu me lembro com detalhes
de tudo que a gente fez
por isso tenho saudade
e hoje sinto vontade
de ser criança outra vez
Ismael Gaião

Comentários

  1. Ahhhh! Minha mãe declamava umas lindas, e como fiéis escudeiras, eu e minhas irmãs decorávamos com ela. Havia uma de Gioia Junior "Nada era dele" que mamy falava a parte maior e eu e minhas irmãs revesadamente ecoávamos o "era emprestado"! Para não negar a raça, no último natal declamei em nossa igreja "O natal do mundo inteiro", de Myrtes Mathias. Reside tanta beleza, poesia, respeito e riqueza nessas lembranças que não as deixaremos morrer...

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    1. Que linda sua memória! Mas acho uma pena nossas igrejas terem esquecido dessa prática. Grande bj e obrigado por comentar

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