A Obra Incompreensível de Deus

Quando eu era pequeno ouvia minha mãe dizer que Deus escreve certo por linhas tortas. Alguns desavisados não entendiam o que a frase queria dizer e chegavam a questioná-la dizendo que "ou a linha se acerta ou Deus não escreve" como se Deus estivesse dentro de algum limite estabelecido pelo homem. A verdade é que estamos longe, muito longe de entender a forma de Deus agir. Se Deus quiser escrever em linha torta ele escreve, se quiser escrever em linha reta ele escreve, se quiser acertar a linha ou não escrever ele também decide, porque ele é Deus, e como já diz o poeta "ninguém explica Deus". Quando seu agir se parece com o nosso, dizemos que entendemos Deus, mas quando ele age diferente de nós, temos a tendência de não aceitar.

A Bíblia diz que Deus é tão profundo, que é insondável assim como seus juizos. E seus caminhos são misteriosos (Romanos 11.23-25). Logo não temos capacidade nenhuma de dizer que entendemos alguma coisa.

Jonas Madureira chama de UNFECTUNG, tudo de ruim que passamos na vida: Tribulações, ansiedade, tentações, provações, depressão... e como a bíblia diz que todas as coisas desse mundo vem de Deus, logo, essas coisas ruins também vem. E é sobre isso que quero discorrer um pouco - sobre a obra incompreensível e estranha de Deus.

Você já parou pra se perguntar por que tantas coisas ruins acontecem? E pior... Você já se questionou por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?... e pior ainda, por que coisas ruins acontecem com pessoas boas e não com pessoas ruins? E pra piorar ainda mais...Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas e coisas boas acontecem com pessoas ruins?
(Já é ruim ver algo ruim acontecendo com uma pessoa boa, mas é ainda pior ver uma coisa boa acontecendo com uma pessoa ruim [risos] ).

Quero citar três exemplos bíblicos que retratam um pouco dessa obra estranha, esquisita de Deus.

ABRAÃO - Filho de Terá, um fazedor de ídolos, desde cedo decidiu não seguir a mesma fé do pai. Era um homem próspero, tinha uma família estabilizada e vivia a segurança que toda mulher sonha. Mas de repente Deus chega com uma nova proposta pra aquele homem. "Sai da tua terra, da casa de seus pais, para um lugar que eu te mostrarei. Farei de ti uma grande nação. Abençoarei quem te abençoar e amaldiçoarei quem te amaldiçoar" (Gn 12.1-2). Claro que a proposta é muito boa mas fico imaginando este homem falando com sua mulher: "Amor nós vamos sair de casa, deixar nossos parentes aqui e vamos para um lugar que eu não sei onde só Deus sabe". Imagino que a cabeça dela se encheu de dúvidas: Onde vamos morar? quem serão nossos vizinhos? como seremos pais de uma grande nação se eu sou estéril?

A obra de Deus se torna mais estranha ainda quando, depois de um milagre muito grande, depois de Sara dar à luz a seu filho Isaque (lembrando que ela era estéril), depois viverem com ele vários anos, se apegarem ao menino, então Deus pede para que Abraão sacrifique seu filho como oferta de obediência. É ou não é uma obra estranha?
Vamos ao segundo exemplo...

JESUS - Deixou o seu reino de glória, autoridade e poder para se tornar homem e passar por todas as dificuldades que qualquer homem passa nessa terra, ainda mais vivendo em um tempo sem muito conforto e nascendo do jeito que ele nasceu, num lugar de animais. Não é difícil imaginar Jesus não querendo vir, porque a ordem de seu Pai era clara: ele tinha que vir, viver entre os homens, morrer da morte mais cruel que existia na época. Ninguém aceita uma missão dessa de coração alegre e satisfeito.

Quando Jesus foi batizado, a Bíblia diz que o céu se abriu e o Espírito Santo desceu em forma de uma pomba e ouviu do céu uma voz que dizia: "Este é meu filho amado em quem tenho prazer" Mt.3 17. A obra de Deus se torna mais estranha ainda quando depois do batismo e depois de se ouvir que era um filho amado, o Espírito de Deus conduz Jesus ao deserto para ser tentado. Repetindo o Espírito de Deus que conduziu Jesus. É ou não é uma obra esquisita? Não foram os pecados dele (até porque ele não os tinha), não foram as consequências dos seus erros. (Tem muita gente que vê alguém passando por provações, tentações, tribulações e já diz logo que é sinal que ele fez algo de errado ou está em pecado). Quem conduziu foi o próprio Deus.
Um último exemplo...

PAULO - Paulo era um doutor da lei, estudou com, provavelmente o nome mais importante do mundo erudito da época - Gamaliel. Paulo era cidadão romano o que lhe conferia um bom status e dentro do povo de Israel era o que podemos dizer - um Nobre. Vivia em Jerusalém, era filho de mãe Judia e pai romano. Tinha muita influência e se destacou perseguindo a nova "seita herética" - os Cristãos. 

A obra de Deus se torna estranha quando este homem tem um encontro com Deus numa visão tão clara de Jesus como uma luz que fica cego durante três dias e depois disso passa a ser perseguido, açoitado, preso em nome daquele que ele perseguia. Em suas cartas e epístolas ele deixa claro que até necessidades ele passou. Vivia de doações dos irmãos. Sofria muitas aflições. Imaginemos o paradoxo da vida de Paulo, em uma época vivendo como nobre e em outra época vivendo como pobre.

Minhas considerações....

Costumo dizer que estamos fadados a sermos esquecidos na quarta geração seguinte. Para comprovar isso façamos um teste: Me responda....Você se lembra do seu tataravô ou tataravó? Sabe o nome deles? Lembra de alguma história? Porque na pesquisa que fiz com vários amigos verifiquei que só lembramos no máximo dos nossos bisavós.  Ou seja....Está provado que "deixamos de existir" (filosoficamente) após a quarta geração. Se pensarmos que uma geração hoje em dia tem em média 30 anos, ou seja, levando em consideração que cada um terá seu próprio filho aos 30 anos de idade, em 120 anos NADA de sua vida existirá, nem memória, nem nome, nem gostos, nem ensinamentos, NADA.

Paulo, Jesus e ainda mais Abraão tem muito mais que 4 gerações e ainda continuam sendo lembrados, ensinados e servidos de exemplo. O que me faz chegar a conclusão de que a Obra de Deus, por mais esquisita, estranha e incompreensível que seja, tem o objetivo muito claro para seu autor. Nós não sabemos onde cada obra vai dar, mas quem comanda sabe. Nós não sabemos os limites da reforma, mas o arquiteto sabe.

Concluo que quem se deixa ser levado para o deserto, quem se deixa ser trabalhado e moldado, quem se deixa ser dominado pelo Espírito de Deus, sairá mais fortalecido e quem sabe até imortalizado como os três exemplos dados. Quem somos nós para questionarmos o agir de Deus. No que eu sou melhor que Paulo, Jesus ou Abraão? Muito pelo contrário, sou nada diante desses grandes homens e se eles, tão grandes, se submeteram ao agir estranho de Deus, o mínimo que posso fazer é me deixar seguir seus passos porque já me seria uma grande honra. Lembrando que todos eles chegaram ao objetivo final com êxito e sucesso. Abraão se tornou Pai de uma grande nação mesmo; Paulo se tornou a maior referência teológica do Novo Testamento e o maior de todos os missionários; e Jesus, esse não precisa nem dizer.

Deixemos quem sabe fazer, fazer! Deixemos quem domina, dominar!
Não frustre os planos de Deus para sua vida porque Ele também não fará se você não permitir, mas também não chegará onde Ele quer te levar.