O Clube de Dança


Era uma tarde fria mas ensolarada na colina de Muswell Hill, o vento soprava e desembaraçava os cabelos de Jessy enquanto ele olhava para o celular, acompanhando a chegada de seu ônibus pelo Google Maps. Faltava apenas um minuto para sua chegada, mas Jessy, fez questão de ficar atrás do acrílico protetor do ponto de ônibus por nome Brownload Road. Então ele olhou para o celular e quase que ao mesmo tempo, olhou para a rua vendo seu ônibus 22 dobrar a esquina em sua direção, em total sincronia com o aplicativo, justificando a fama da pontualidade britânica. Jessy entrou e rapidamente subiu para o segundo andar do ônibus porque adorava ficar na frente olhando a estrada numa vista do alto. Ele sentou-se no primeiro banco, no lado do corredor.

Olhava ao longe as árvores sem nenhuma folha mas com os galhos todos apontados para cima, parecendo mais as costas de um porco-espinho. A rua era mais estreita do que havia visto em outros países, carros vinham na direção contrária, e outros ônibus também, só que estes, tinha-se a nítida impressão que iam se chocar com o seu, dado a pista ser tão estreita. Mas quando um se aproximava do outro, um deles se responsabilizava de entrar numa brecha, para que o outro passasse tranquilamente.

Olhando para o próximo ponto de ônibus, viu uma linda mulher que se destacava entre as outras. Ela usava uma calça preta bem justa, não tão comum em Londres, um sapato alto mas não com o salto fino. Um sobretudo vermelho com um capus de pele escondia o cabelo loiro cor de ouro. Ele olhou pra ela torcendo pra que entrasse no ônibus. Foi acompanhando a parada do ônibus e os movimentos que a mulher fazia, e para a alegria de Jessy, ela embarcou. Olhou o monitor das câmeras esperando que a sorte sorrisse pra ele, e que ela subisse pra onde ele estava. Mas foi melhor do que ele esperava. Ela subiu rapidamente e sentou-se no banco ao lado do dele, e também na cadeira do corredor. Em pouquíssimo tempo estavam praticamente sentados juntos um ao lado do outro, separados apenas pelo corredor.

Jessy, continuou a admirar a bela descida de Muswell Hill, com suas lojas de carne marmorizada e casas de chá. A linda mulher tirou um pote de yogurt bem consistente de dentro de sua bolsa e comia sem nenhuma cerimônia com uma colherzinha de plástico descartável. De repente uma freiada brusca faz com que os dois olhem para frente, então Jessy vê a moça gritar: - Meu Jesus!!! Um ciclista quase é atropelado por outro ônibus que o jogaria em cima do ônibus de Jessy. Começa então uma discussão lá fora entre o ciclista e o motorista do ônibus. Era clara a razão do ciclista, que depois de xingar um bocado o motorista e sua amada família, subiu na bike e seguiu seu percurso.

Jessy então parou pra raciocinar que a mulher havia exclamado um "Meu Jesus!" Num bom e velho português. Então se encheu de coragem e perguntou:
- Brasileira?
- Sim
- Prazer, meu nome é Jessy, também sou. Bom ouvir português. Ele puxa assunto tentando não ficar petrificado com a beleza daquela mulher. Não era uma jovem, assim como ele, mas era uma exuberante mulher.
- Muito prazer sou Lucca.
Começaram a trocar ideias sobre a cidade, o tempo que cada estava lá e até que surgiu o convite para um café. Marcaram então, às 17h no Café Museu, que ficava próximo ao museu de cera, muito famoso em Londres - Madame Tussauds.

Uma semana depois, numa ensolarada tarde, os dois se encontraram no café. Ele já a esperava, mas ela não tardou em chegar. Usava uma blusa amarela fina, com um pequeno laço do mesmo tecido, provavelmente fazia parte da blusa. Logo, ela sentou e se cumprimentaram com o tradicional beijo no rosto brasileiro. Ele perguntou o que ela gostaria de comer, pediu o Menu e quando a waitress chegou, antes de ver o Menu, Jessy perguntou:
- Quais tortas vc tem? A moça respondeu:
- Torta de maçã com nozes... e antes que ela falasse o segundo sabor, Jessy exclamou:
- Essa! Traga uma por favor e dois garfos. Lucca achou surpreendentemente diferente a forma dele pedir. Decidido, sabia o que queria, não esperou outra opção, não pediu duas (pediu uma e dois garfos) uma atitude que para alguns poderia parecer mesquinharia pra ela foi fofo dividir uma torta como a Dama e o Vagabundo dividiram a macarronada.

A tarde foi bem agradável, os dois estavam bem à vontade, Jessy bem falante, com um papo muito agradável, e ela, meio tímida, mas conversando bem como se já se conhecessem à meses. Na despedida ela fez questão de acompanha-lo até o carro. Chegando no carro ele a segurou pelo pescoço e a impressou entre ele e o carro, de tal forma que ela sentiu ele crescer pra cima dela e ele percebeu os pêlos da nuca dela se arrepiarem. Marcaram um jantar pra semana seguinte. Ela saiu do encontro com misto de surpresa, medo, e curiosidade. Ela tinha gostado do beijo dele, mas ficou surpresa como ele era decidido. Como se dissesse pra ela o tipo de homem "macho alfa" que era. Ele, por sua vez, ficou deslumbrado com a mulher que se apresentara. Sentiu o cheiro de fêmea nela. Daquelas que gosta da coisa.

Na semana seguinte eles foram a um restaurante bem requintado. O restaurante ficava às margens do rio Tamisa. Chegaram num tradicional taxi inglês e à porta do restaurante os esperava um jovem muito bem trajado com um uniforme e com um gentil sorriso abriu a porta pra eles e fez sua recepção. Ele saiu primeiro e deu a mão, de forma muita cavalheira, para que ela saísse do carro. O recepcionista apontou o corredor por onde eles deviam seguir. O corredor era de tábuas corridas de cerejeira, os cantos eram margeados por colunas finas de ferro fundido, mais ou menos 1m de altura, todo vazado e com pequenas bromélias penduradas neles e na ponta pequenos fogareiros que iluminavam o caminho. Era luxuoso, mesas pequenas, bem postas, cadeiras extremamente confortáveis, uma decoração arrumada de forma muito romântica, como se o restaurante fosse próprio para casais. O teto todo em madeira, lembrando os casarões de Minas Gerais da época das grandes fazendas de café, era adornado por lindos lustres de ferro com lâmpadas que se assemelhavam à velas.
Sentaram ele pediu um vinho e uma entrada de bruschettas típicas da Itália.

O papo estava muito bom, divertido, às vezes levemente picante, mas na maioria das vezes sobre coisas engraçadas do cotidiano. Pediram o prato principal, leve mas muito saboroso. Ele fez questão de sugerir porque ainda queria que a noite durasse muito tempo, e um prato pesado poderia estragar o passeio. As horas passaram sem que eles se dessem conta do tempo. Depois de satisfeitos, Jessy pergunta a Lucca se ainda tinha pique pra continuar a noite num clube dançante. E ela prontamente responde que sim. Ele pediu a conta ao mesmo tempo que pediu ao garcon pra chamar um taxi. 5 minutos depois, conta paga, taxi na porta, ele levanta calmamente até ela, dá-lhe um beijo na testa seguido de um na boca com muito carinho, então pergunta:
-Posso? Colocando a mão nas costas da cadeira pronto pra puxar e ela levantar-se. Foram de mãos dadas ao taxi e seguiram para o clube, ela deitada no peito e ombro dele, como se quisesse sentir o perfume do seu pescoço.

Chegaram ao clube dançante, que para agradável surpresa dela não era nenhum daqueles clubes lotados de pessoas bebendo, quase todas encostadas uma nas outras na pista de dança. Muito pelo contrário, havia pouca gente, muitos casais de meia idade, quase nenhum jovem, um ambiente quase familiar. Chegaram por volta da 0:40 e logo acharam um mesa bem pequena. Haviam várias delas mas com um distância considerável entre cada uma. A pista de dança ficava mais escondida, longe das mesas, num lugar quase fechado.
Ela vestia uma saia longa, cujo tecido se transpassava um por cima do outro, que deixava a perna escapar para fora quando ela andava. Ele puxou-a para a pista de dança, no momento que as luzes diminuíam enquanto o volume da música aumentava. Ele colocou uma das mãos nas costas dela no mesmo momento que segurava a outra mão. Os dois começaram a dançar ao som daquela bela música, e então se beijaram, ele direcionou os lábios para a saboneteira dela (pra quem não conhece é o espaço no ombro criado pela clavícula). Lucca tremia de tanto nervoso e surpresa, segurava o pescoço dele, sua respiração estava completamente ofegante.  Ela tentou se acalmar, colocou os dedos no cabelo dele e ambos suspiraram profundamente. Então se beijaram... um longo beijo, daqueles que só se vê em filmes

O cérebro de Lucca finalmente começou a funcionar como se tivesse recobrado a razão, ficaram abraçados enquanto a música diminuia o volume e as luzes lentamente iam se acendendo, mas não totalmente, apenas uma penumbra. Foram andando lentamente de volta à mesa. Ela de cabeça baixa passando o cabelo por trás da orelha, e mudos chegaram à mesa. Ainda estavam um pouco ofegantes, por causa da dança e por causa do nervosismo dos dois, um olhava para o outro meio que sem acreditar. Ele a puxou para um abraço e ela recostou em seu ombro. As palavras tinham fugido.
Pediram um drink de frutas sem álcool e quando chegou ela pegou uma pedra de gelo de dentro da taça, passou na nuca e entre os seios.

Conversaram com os olhos por mais alguns minutos, quando ela irrompe o silêncio e díz: - Preciso ir!
Ele acenou positivamente com a cabeça, levantou o braço, pediu a conta e o garçom veio segurando a maquininha. Foram em direção à saída, alguns taxi's já esperavam os clientes da casa. Ele abriu a porta para que ela entrasse, deu um profundo beijo e ela entrou e sentou. Ele fechou a porta atrás dela ficando pro lado de fora.
- Amanhã te ligo, durma bem! Com um sorriso encantador no rosto se despediu dela. Virou para o chofeur, deu o endereço e pagou a corrida antecipadamente.
O taxi seguiu pelas ruas escuras da capital britânica e Lucca sentada sozinha no banco de trás revia em sua memória recente aquela experiência inacreditável e sorriu entre os lábios pensando no que viria pela frente naquele relacionamento com aquele homem surpreendente, decido e dono de um charme que era só dele.

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