Urgências
Assistindo a isso é fácil deixar vir à mente a pergunta: O que você faria se tive apenas 150 dias de vida?
Provavelmente um grande percentual responderia que gostaria de estar perto da família, perto das pessoas que mais ama. Outros talvez gostariam de viajar e ver o que ainda não viram do mundo, outros ainda fariam sua lista de botas, com 15 coisas que precisam fazer antes de morrer. Se eu fizesse uma enquete aqui, tenho certeza que o número de possibilidades seria enorme.
A verdade é que todos nós estamos caminhando em direção à morte, uns já caminharam por um bom pedaço da estrada, outros caminharam bem pouco, mas a morte tem muito pouco a ver com o tamanho do caminho percorrido, porque ninguém sabe a hora que vai, se vai cedo ou se vai tarde.
Quando passamos dos 50 anos de idade parece que a palavra urgência toma conta do nosso vocabulário de vida. Temos urgência em viver, em ser feliz, em encontrar o amor (pra aqueles que ainda não encontraram ou que perderam pelo meio do caminho), em ser bem sucedido, em deixar algo pros filhos, urgências e urgências. E essas urgências colocam escamas nos nossos olhos que dificultam ver determinadas coisas. Como dizia minha vó: "a pressa é inimiga da perfeição" a pressa pode nos impossibilitar de ver ou de ter coisas mais "perfeitas". Por causa da pressa e assim vamos levando a vida à toque de caixa.
Quando se tem urgência pra tudo se esquece que pra tudo na vida tem um tempo certo pra acontecer. A natureza, por exemplo, não tem urgência pra nada. Ela produz o crescimento de cada espécie de planta no tempo exato que precisa pra crescer. É muito difícil ver um animal nascer de forma precoce, sua gestação na natureza tem o tempo certo. Vocês sabiam que o ser humano é o único "animal" que nasce precoce? É o único que nasce e não anda imediatamente, é o único que nasce sem o cérebro estar completamente pronto, é o único que nasce com o crânio por terminar?
A Bíblia diz em Eclesiastes 3.1-8 que tudo tem um tempo determinado pra acontecer. Tempo de plantar, tempo de colher o que se plantou, tempo para tudo. Quando pensamos e vivemos com base na urgência estamos dizendo à nós mesmos que não concordamos em obedecer à esse tempo determinado. Queremos que as coisas aconteçam já. Talvez porque elas já deveriam ter acontecido, já deveríamos ter sucesso em nossas carreiras, já deveríamos ter dinheiro suficiente pra não preocupar com o futuro, talvez já devêssemos ter alguém pra partilhar a velhice, talvez, talvez.
Mas e se tivéssemos tudo isso? Qual seria a motivação de nossa vida? Quais seriam os motivos pelos quais levantássemos todos os dias em busca de um objetivo?
São tantas perguntas, e dizem por aí que são as perguntas que giram o mundo, não as respostas.
Tenho aprendido a me manter em calma, tentando entender o tempo de cada coisa. Tenho tentado não ser seduzido pela urgência porque sei que ela pode corromper a qualidade das minhas escolhas. Tenho tentado viver um dia de cada vez, com paciência, com fé, com mais simplicidade e paz. Quem sabe não seja esse o segredo de se viver com mais saúde física, mental e emocional? Quem sabe se, exigindo menos de nós, podemos aprender a exigir menos dos outros.
O tempo de cada um já está escrito, pelo menos eu acredito assim. Ninguém tem a capacidade de aumentar um minuto sequer à sua existência, então de que vale tanta urgência. Se procuramos a felicidade como um fim em si mesma, quem sabe a felicidade não seja exatamente a maneira como a buscamos, não o fim, mas o processo. Quem sabe a felicidade não seja o lugar onde se quer chegar, mas sim o caminho até lá.
Pense nisso!
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