Viagem de Ida, sem volta


O coração é realmente uma terra desconhecida, de meandros e entrementes desconhecidos mesmo para aqueles que acham já ter passado por alguns de seus corredores, de suas escadarias ou de suas roletas. A plataforma dele sempre está cheia, como diz a poetiza "...Todos os dias é um vai-e-vem, a vida se repete na estação, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais, tem gente que vem e quer voltar, tem gente que vai e quer ficar, tem gente que veio só olhar, tem gente a sorrir e a chorar...E assim, chegar e partir" É um trem que vai, lotado de histórias, outro que vem querendo criar novas.

O observador olha atento as feições de cada passageiro, uns que vão carregando uma tremenda dor no peito, talvez por uma história que quer esquecer, que quer que as fotos caiam pelos trilhos e sejam cortadas pelas rodas duras de ferro da locomotiva. Um olhar de "preciso de uma nova oportunidade, preciso recomeçar". Outros vão com um olhar de esperança como quem almeja um novo horizonte, talvez mais amplo, mais rico, mais belo, com mais oportunidades. Um olhar de quem está começando de fato sua viagem.

O observador também vê os que descem do trem, muitos portam olhares de dúvidas...onde estou? será que vai dar certo? ...pronto, estou aqui, agora é trabalhar e refazer minha vida. Outros com olhares de ... finalmente cheguei, voltei, estou em casa! Quanta saudade desse lugar, quantas memórias deixei aqui...

O observador se detém em alguns acompanhantes, vê que eles partilham o mesmo olhar, a mesma tristeza, a mesma melancolia, a mesma dor de ver uma parte ir , um par ir, um partir! e o acompanhante fica, mas partido! Mesmo que o passageiro vá em busca de um melhor, de um sucesso, ou que esteja tentando sair de um fracasso, a dor sempre é a mesma - de uma parte + ida arrancada.


Há cordões que precisam ser cortados, mesmo que contra vontade de quem vai ou quem fica. Ambos precisam de liberdade, de se sentirem livres, não amarrados. O coração tem a tendência de tecer cordões elásticos quilométricos, o filho está longe mas está ligado, o amado ou amada estão longe mas estão ligados. E nessa teia da vida viramos fantoches conectados por linhas que nos dão direção e que algumas vezes não são as que queremos.

A liberdade deve ser o único laço a unir as pessoas. O direito de ir e de vir, e também de não quer ir nem vir. Precisamos entender isso! Tentar viver o aqui, o agora, sem ser uma marionete de um "e se fosse ..." ou de um cordão que embora pense que está preso a outrem, já se soltou e por uma ironia do destino se prendeu a uma pedra lhe enganando.

E como dizia Carlos Drummond de Andrade...

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