Light Bridge - Chapter 2

CHAPTER 2

O barulho das rodas da charrete tilintavam nos ouvidos de Cindy ao mesmo tempo em que ela lembrava do momento que ela acordou dentro desse pesadelo. No fundo ela esperava que fosse dormir naquele cubículo barulhento e acordasse de novo na Land Rover, mesmo que ainda dentro da tempestade ou até mesmo acordando de um acidente, tudo que ela queria era sair daquele pesadelo. Na sua cabeça começou a brotar inúmeras perguntas e possibilidades do que poderia estar acontecendo. Cindy se perguntou se porventura sofrera um acidente naquela ponte no meio da tempestade, e quem sabe estava num hospital desacordada e tudo aquilo seria um sonho. Se perguntou também se não estava vivendo um pós morte, como uma vida após a outra. Sempre ouvira falar do céu, do paraíso, mas ninguém nunca voltou para contar como é lá. Quando começou a pensar mais nessa hipótese ficou ainda mais preocupada pois conhecia a fé cristã, conhecia a história de Jesus, como ele morreu, ressuscitou e deixou registrado que iria para o céu preparar lugar para aqueles que crescem nele morarem eternamente. Mas aquela situação que estava vivendo não era concebível com um pós morte cristão. A preocupação se deu porque na sua juventude conheceu a fé budista e ela trouxe algumas respostas que tanto buscou na vida, mas dentro da fé budista uma nova vida pode recomeçar para alguém que morreu. Sabia que o budismo nega o eu eterno, que os seres morrem e renascem abandonando a ideia do que foram. Cindy neste momento ficou apavorada: Meu Deus! Será que eu morri?


De repente o barulho dos cascos dos cavalos começou a diminuir o ritmo, levemente a velocidade da charrete reduzia e com ela o som das ferragens, até que parou. O cocheiro abriu a porta e com um tímido sorriso disse: 

- Senhora, chegamos ao local onde a encontramos caída dias atrás.

- Me ajude a descer. Me mostre exatamente onde me achou e como eu estava, por favor.

- Sim, madame

Foram caminhando por uma pequena trilha que muito lembrava o sítio onde sua mãe morava. Estrada de chão, com uma vasta natureza margeando-a. O barulho do riacho se juntava ao som de pássaros o que a deixou mais calma, parecia que estava perto de casa. E quem sabe não estivesse mesmo! Depois de uma curva, uma grande clareira e uma vista deslumbrante. Um céu gigantesco, montanhas ao fundo, mas num nível mais baixo de onde ela estava. Se deu conta de que estava num lugar de altitude elevada.

- Senhora, foi aqui que o cavalo se assustou e derrubou a senhora.

- Obrigada. Disse ela mais interessada em encontrar algum caminho, um portal, uma caverna, alguma coisa que apontasse uma direção para ela sair daquela realidade paralela.

Mas nada. Nem sequer um magnetismo, como dizem que há nas pedras de Stonehenge, na Inglaterra. Ela se agachou como se tivesse perdido as forças e a esperança. Começou a chorar, mais uma vez lembrando de uma vida pela qual era completamente apaixonada.

- Senhora, posso ajudar em alguma coisa? Perguntou o cocheiro.

- Não obrigada, só quero voltar pra minha casa

- Posso levá-la agora mesmo, senhora

- Não é essa casa que eu estou falando. Na verdade eu preciso de um milagre

- Minha senhora, posso emprestar minha moeda de São Bonifácio, sempre que rezo segurando a moeda e faço meu pedido, ele num breve tempo me atende.

Ela virou a cabeça rapidamente para ele e perguntou: 

- Rezar pra quem?

- São Bonifácio, minha senhora, o santo que saiu de sua terra para evangelizar terras desconhecidas por ele.

Mais uma vez Cindy parecia não acreditar em tantas coincidências. Com um semblante cabisbaixo, olhos ligeiramente vermelhos assim como a ponta do nariz, resultado do lamento desesperançoso, ela suplicou:

- Me leve de volta, por favor.

Durante o caminho Cindy tentou pensar de forma mais proativa. Sabia que essa situação de alguma forma teria de passar e se ela continuasse deixar a melancolia tomar conta do seu coração sabia que adoeceria. E ela não queria isso, queria estar plena, vibrante como sempre foi, iria vencer aquela adversidade de cabeça erguida. Deixou que seu pensamento tomasse forma de som e ao abrir a boca seu pensamento saiu: Não sou mulher de desistir, de me abater. Sou uma guerreira que venceu muitas batalhas e essa não será diferente.

Algum tempo depois já estava em casa, ou pelo menos naquela sua nova casa. Ao subir os degraus da varanda da frente sentiu o cheiro delicioso de frango ensopado. Já estava na hora do almoço e todo aquele caminho de volta lhe abriu o apetite. Ao caminhar para seu quarto, uma de suas camareiras veio ao seu encontro.

- Posso ajudá-la, Madame?

- Não obrigado, vou tomar uma ducha para o almoço. O que teremos para o almoço? Perguntava ela enquanto se dirigia ao quarto

- Ducha? O que é isso senhora? Teremos abóbora com frango. O Senhor disse que é um dos pratos preferidos da Madame.

Ela chegou a parar para olhar para trás e sondar o rosto da moça para ver se não havia uma sombra de sorriso, de alguém que esconde alguma brincadeira. Por que era isso que ela achava que estava acontecendo. O mundo resolveu fazer uma grande brincadeira com ela.

- Gostaria que eu esquentasse água para seu banho, senhora?  

- Eu agradeço. Falava indo em direção ao guarda-roupa, onde gostaria de escolher algo mais leve para vestir.

Ao mesmo tempo olhou para a janela iluminada com a claridade do dia, ligeiramente aberta mas protegida por uma cortina muito fina. E logo abaixo da janela, uma linda banheira de bronze, para onde a moça caminhou a fim de preparar seu banho. Toalhas azuis claro estavam enroladas na cabeceira da banheira, ao lado um pequeno aparador de bronze servia de suporte para alguns potes de creme, sabão líquido e algo que parecia óleo com perfume. Encontrou um robe de cetim preto com estampas de aves, parecido com roupa japonesa e separou para vestir. Pensou… nada mais confortável que esse robe!

Colocou em cima do biombo que protegia a porta do seu guarda-roupa e lentamente começou a desabotoar seu vestido. Aquela atividade trouxe paz ao mesmo tempo que uma certa excitação. Como uma flecha, um pensamento passou pela sua cabeça: Por que não tenho alguém aqui para desabotoar essa roupa, me abraçar me apertando, me aconchegando a uma segurança que preciso tanto? Seu devaneio foi interrompido pela jovem que trazia água quente para a banheira.


Em alguns momentos a banheira já estava cheia com água deliciosamente morna, mais pra quente, para ser mais preciso. Cindy caminhou até a banheira, acompanhando com o olhar a fumaça que subia dela. Desfez o laço do seu robe lentamente, o abriu e levantou uma de suas torneadas pernas em direção ao interior da banheira. Seu pé bem esticado ansiava em tocar com as pontas dos dedos naquela água que parecia tão deliciosa quanto um bombom de chocolate com morango dentro. Assim que seu pé tocou a água quente, Cindy soltou gemido como de alguém que tem o corpo tenso e é tocado pelas mãos de um massagista. A linda mulher vira os braços para trás e deixa seu robe deslizar pelo seu corpo em direção ao chão, enquanto, como uma linda garça caminha pelas margens de um lago, entra para dentro daquela convidativa água. A banheira não era grande o suficiente para que suas pernas ficassem esticadas, mas nem precisava, era funda o suficiente para escondê-la quase por completo, inclusive seus fartos seios. Cindy recostou a cabeça para trás e deixou que a temperatura abrisse todos os seus poros, cerrou os olhos e não se preocupou em que hora tinha que sair dali. 


O cheiro do edredom limpo a acordou, sentiu a maciez da sua cama. Estava deitada de lado, como normalmente dorme, a cabeça em cima de um travesseiro enquanto abraçava outro, e um outro ainda debaixo da sua coxa e joelho. Abriu os olhos lentamente, olhou para frente e se viu no espelho da porta do seu guarda-roupa que ficava ao lado da cama. Virou um pouco a cabeça pra cima e percebeu seu painel de madeira com detalhes que ia do chão até 45 cm mais alto que a cama, era um painel que ela amava, gostava de, enquanto pensava deitada na cama, passar as costas da mão entre os espaços nos cercados verticais que moviam o design da cabeceira, e sua mente fazia alguns dos projetos que se tornariam sucesso meses depois. Mas para uma última conferida para saber se estava realmente em casa, virou a cabeça em direção aos pés, e lá estava o espelho que era seu maior voyeur, era dele seus primeiros olhares do dia, era dele os closes para suas práticas íntimas (não tão íntimas, se é que me entendem). Era ele que dizia: Estás bela, linda donzela! Estás pronta para iluminar o caminho por onde passares! Cindy fechou os olhos e pensou: Graças a Deus estou de volta à minha casa.

Enquanto seus olhos ainda estavam fechados, Cindy sentiu seu pé se aquecer, como se estivesse dentro de uma panela no fogo. E aquela visão a assustou e então a mulher acordou com a criada colocando mais água quente na banheira. 

- Assustei a senhora, madame? Trouxe mais água quente para que a senhora não gripe na água fria.

Cindy, sem acreditar que foi tudo um sonho, que estava de volta àquela realidade paralela desesperadora, afundou sua cabeça na água e lá ficou.



Vestida com o robe preto com tucanos e araras tão bem desenhadas que pareciam reais, com os braços cruzados, olhar fixo para o lado de fora, a mente da moça viajava nas lembranças ao mesmo tempo que tentava pensar em uma forma de sair daquela situação. Seu olhar acompanhava fixamente a exuberante natureza que cercava a casa, era uma propriedade muito parecida com as casas de campo da nobreza inglesa. Um campo muito extenso mas com árvores que pareciam plantadas de forma proposital, parecia terem saído de um projeto paisagístico de um grande arquiteto. Era tanta coisa pra ver que Cindy se perdeu no tempo ao olhar por aquela janela. 



O vento tocava delicadamente as folhas das árvores, som de pássaros de diversas espécies, davam o tom de campo para a casa. A luz do dia era abundante, mas não cheia de calor, aquele calor que ela estava acostumada quando ia à praia ou passear de barco. Naquele campo também tinham partes de jardim floridos, mas da mesma forma que as árvores, eles também pareciam terem sido pensados na quantidade e na forma como foram plantadas. Algo chamou-lhe atenção naquela paisagem. Um lindo cavalo puro-sangue, negro como carvão, mas com um brilho que parecia refletir a luz do sol. Muito forte, crinas esvoaçantes, pescoço ereto, mas a cabeça apontava para baixo como se ele quisesse olhar diretamente para um ponto. O cavalo saiu do meio das árvores, com um trote curto mas firme como se estivesse desfilando para compradores de genética. Em cima do cavalo estava novamente aquele homem que a chamou de querida, aquele esposo completamente estranho mas que de um jeito muito peculiar, começava a chamar atenção da moça, não pela beleza, porque nem era tão belo assim, mas algo de imponente e misterioso marcava sua silhueta. Era gentil, mas também era bem evidente a força dele. Seu olhar penetrante, combinava horas de gentileza e horas de firmeza. Como na hora que ele pediu ao servo que cuidasse da senhora. Ele usava botas longas pretas bem lustradas, calça justa como as de jóqueis prontos a saltar com seus puro-sangues. Na parte de cima, vestia uma camisa branca com babados e gola alta que saltava para fora do peito, coberto por um suéter dourado de seis botões que estava por cima da camisa. E para encerrar o traje, um lindo sobretudo preto aberto, na frente mais curto que atrás. Quatro botões de cada lado do sobretudo saltavam aos olhos. Era uma figura tão imponente que mesmo que quisesse se esconder não poderia, e ele sabia disso, apesar de ter apenas 1,76 m de altura, tanto no cavalo quanto andando na rua parecia ser bem mais alto, dado a altivez com que andava ou mesmo sentado em seu cavalo.


A imponente dupla chegou à varanda e o homem olhou diretamente para a janela e esboçou um pequeno sorriso como se não existisse uma parede entre eles, como se estivesse vendo Cindy em trajes pós banho. Aquele olhar deixou-a tão constrangida que ela, saindo da janela, tentou imediatamente se esconder. Meu Deus, será que ele me viu nesses trajes? Pensou a moça. Da época de onde ela vinha isso não seria uma coisa tão constrangedora, mas ela já começava a se situar na época em que estava e sabia que para aquela realidade um homem ver uma mulher, mesmo que fosse a sua, em trajes íntimos ou trajes de banho era algo fora do padrão. Ainda mais ela, tendo aquele homem como um estranho. Mas uma coisa chamou a atenção dela. Seu coração estava batendo muito forte, parecia que ia sair do peito. Começou a ouvir passos vindo em direção ao quarto onde estava. Certamente era ele, e só de imaginar entrando no quarto seu coração batia numa altura que ela tinha certeza de que estava ouvindo-o. A bela não tinha o que fazer, não tinha como fugir. Ela colocou as mãos para trás e encontrou a mesa que estava no quarto e seus olhos estavam fixos na porta, o barulho dos passos ia aumentando na mesma proporção em que as batidas do coração dela ressoavam pelo seu peito. Finalmente a porta se abriu. Eram duas portas, ou pra ser mais exato, uma porta com duas bandeiras. Ele estava com as mãos em cada maçaneta, e abriu a porta trazendo com ele a luz do dia para dentro do quarto, e só então ele percebeu que seu quarto estava pouco escuro.

O homem abriu as portas e olhou diretamente para ela. Seus olhares se encontraram, ela estava com os lábios entreabertos porque quase não conseguia respirar. Os olhos fixos no homem. Ele parecia hipnotizado pela beleza da jovem. Soltou as portas e caminhou em direção à ela com passos acelerados, ela parecia que ia desmaiar, e de repente seus corpos se encontraram.

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