Por que sofremos sem merecer?

Esta primeira quinzena do mês de março tirei para estudar e me aprofundar um pouco no Livro de Jó. Este livro sempre me causou desconforto, primeiro porque nunca concordei com a visão do livro, com sofrimento de Jó e nem com a forma como termina seu sofrimento. 
O livro relata sobre a vida de um homem bom, temente a Deus, íntegro e que passa por um turbilhão de problemas, catástrofes, e no final ele tem um encontro com Deus e este restitui em dobro tudo que ele tinha. E segundo, porque meu maior questionamento com livro é no tocante a perda dos filhos, a morte trágica dos filhos de Jó, e que Deus no final restitui em dobro. Eu não ia querer filhos em dobro, eu ia querer os meus filhos, penso que filhos são insubstituíveis, por mais que vocês tenha outros, estes não ocupam o lugar daquele ou daqueles que se foram, muito menos dando em dobro.
Mas também sempre fui um homem temente a Deus e sempre acreditei que apesar de todas as lutas e dificuldades nossas e de Jó, Deus sempre está no controle de todas as coisas por mais que eu não entenda ou não concorde ele ainda continua sendo Deus.

Deixe-me compartilhar com você algumas das conclusões que eu cheguei para tentar entender qual motivo Deus coloca essa história na bíblia (que até para alguns teólogos é uma história fictícia por não se tratar de um homem cujo nome era Hebreu nem os nomes de seus amigos e nem essa história está muito retratada dentro da cultura judaica), o que Deus quer ensinar a seu povo com essa trágica história.

O livro começa com o encontro, uma reunião, numa corte Celestial, onde Deus pergunta a Satanás se tem visto seu servo Jó, homem fiel, temente a Deus, que se desvia do mal. Satanás levanta o seguinte questionamento: Será que já não te serve com segundas intenções? Será que ele só é fiel porque você o cobre de bençãos? Daí começa a saga de Jó porque Deus autoriza Satanás a tirar tudo que ele tem, tocar inclusive na sua saúde. Jô foi alguém escolhido para provar que Satanás estava errado, para provar que a nossa relação com Deus não é um comércio, apesar de algumas pessoas viverem sob essa égide e provarem o contrário.

Jó recebe quatro amigos, que carregam quatro discursos onde três dos quais, vemos constantemente nos nossos púlpitos e também nos aconselhamentos. Os primeiros três discursos são dos amigos Elifaz, Bildade e Zofar. Todos os três ao invés de levar uma mensagem de consolação levam mensagem de acusação dizendo que se Deus é justo e Jó está passando por aquela situação é porque pecou, é porque tem algum pecado escondido; seus filhos pecaram e por isso morreram. A teologia desses homens diz que o sofrimento é por merecimento, Jô e seus filhos mereceram esse sofrimento. É a teologia da Retribuição são as consequências sobre o que você faz: Bateu, levou!!! ( apesar de ser um teologia correta, ela não se aplica a todos e nem explica tudo)

É muito difícil aconselhar alguém que esteja passando por uma situação dessa, ainda mais se for uma pessoa com uma profunda maturidade espiritual, não é da mesma forma que se aconselha uma pessoa não tão madura. O fato de você dizer a uma pessoa madura que o sofrimento dela tem base no merecimento você pode estar fazendo com que ela crie um muro, uma barreira em torno de si, que a separe do conselheiro e até mesmo que a separe de Deus.

A igreja moderna fracassa no tratamento de seus membros porque carregam os mesmos argumentos desses amigos de Jó, ao invés de consoladores temos acusadores. Quando o sofrimento vem, começamos a fazer questionamentos morais. O livro de Jó, vem para elucidar isso, o sofrimento é uma contingência da vida, nem sempre é fruto de alguma coisa que você plantou, nem sempre é uma retribuição por alguma coisa que você fez. Precisamos entender que nem tudo que sofremos podemos explicar, há coisas que tem um comprometimento no campo espiritual para além do nosso entendimento.

Mas há um quarto discurso de um amigo que aparece quase no fim do livro - Eliú,  começa combatendo a ideia de que se Deus está em silêncio é porque ele é injusto, Eliú revela coisas que Jó não estava vendo, e que o sofrimento pode ser uma ferramenta para amadurecimento.

O Livro de Jó vem nos ensinar que sofrimento não tem a ver com merecimento, o sofrimento faz de nós remédios para outros sofredores. No fim do livro, Jô exige que Deus responda a ele, como se ele colocasse Deus diante de um juízo, de um tribunal. Esse também é um ensinamento - o de quebrar nosso orgulho e arrogância.

Muitas pessoas ao lerem O Livro de Jó não entendem a resposta de Deus, e talvez o segredo está justamente nessa resposta. Deus responde ao sofrimento de Jó dizendo que ele é o criador de todas as coisas. O que isso tem a ver? Na verdade, tudo! porque quem é capaz de criar todas as coisas tem competência e capacidade para resolver todas as coisas.

Talvez os maiores ensinamentos desse livro para nós, são:
1. É possível nos relacionar com Deus não importando as circunstâncias;
2. É possível amar a Deus acima de todas as coisas, como o dinheiro, família, bens, poder e;
3. Que os propósitos de Deus estão para além da nossa compreensão.

Aquele que é criador de todas as coisas, tem domínio sobre todas as coisas, está acima de todos os problemas e todas as dificuldades, mesmo eu não aceitando a história e ainda descordando de que dar filhos em dobro não substitui os filhos perdidos, eu me submeto à vontade daquele que é Criador, daquele que sabe mais do que eu, daquele que conhece o universo, daquele que conhece todas as coisas porque as criou, os céus e mares, criou os monstros marinhos e tudo que vemos e que não vemos foi criado por ele, logo, ele tem domínio sobre todas as coisas eu me submeto a esse que é o grande Criador.



Espero que você desvie seu olhar do seu sofrimento e olhe para aquele que pode todas as coisas.

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