Faça o Bem, sem olhar a Quem

Há uns dias atrás fui surpreendido com uma situação inusitada.
Estava numa pequena cidade nos arredores de Belo Horizonte almoçando num restaurante com meu filho e uns amigos. Lugar tranquilo, um varandão próximo à rua, boa comida, companhia agradável...quando percebo um "morador de rua" vir em nossa direção. A amiga que estava de frente pra mim tinha deixado sua bolsa na cadeira vazia ao lado, e eu, carioca, sempre muito atento à bandidagem, pensei: Esse cara vai passar a mão na bolsa dela e correr. Não fiz nada, mas fiquei com o "sentido aranha" ativado, pronto pra reagir, se fosse necessário.

Aquele homem passou devagar por nossa mesa, meio cabisbaixo mas percebi que ele olhou pra todos. Passou direto e andou mais uns 15 metros deu meia volta e se dirigiu novamente em nossa direção. Parou em frente à nossa mesa, apontou para mim e exclamou: Eu conheço o senhor!
Eu olhei para ele meio descrente e fiquei esperando ele concluir...pensei como alguém pudesse me conhecer naquela cidade, visto que nunca tinha estado ali, e ainda mais um morador de rua??? E ele continuou.... MANHUAÇU! (Cidade onde morei há anos atrás)...Eu ainda descrente achei que ele tivesse lido a placa do meu carro, mas as pessoas que estavam sentadas comigo pararam e todos olharam para ele e para mim. E ele continuou disparando.... Maestro Marcelo Melo, maestro da Sinfônica de Minas Gerais! assisti o senhor várias vezes na televisão."
O restaurante inteiro parou e olhou pra mim... O homem colocou a mão na cabeça como quem não acreditava no que estava vendo e falou: "Nossa... não acredito no que to vendo...O senhor é meu ídolo, nossa nem acredito gente esse homem é o maestro da sinfônica!!!" (na verdade nunca fui O maestro da Sinfônica de Minas Gerais, regi uma outra orquestra em Minas e tenho muitos vídeos no YouTube)

As pessoas que estavam lá ficaram espantadas e eu mais ainda. Pedi que ele sentasse porque eu já estava com vergonha daquela situação, mas ele continuou falando..."O senhor cuidou de mim... eu nunca vi uma pessoa tão simples, o senhor me recebeu na sua casa, fez um café da tarde para mim, mostrou fotos de lugares lindos, eu me senti amado, me senti respeitado."
Foi então que eu percebi que ele era um dos internos do programa de resgate de pessoas envolvidas com drogas, onde eu era voluntário. O programa chama-se Cristolândia, é promovido pelas igrejas batistas e é um exemplo de sucesso nessa área.

Olhei para ele fixamente, e mesmo diferente do jeito que eu o conhecera, Eu reconheci quem era ... E então eu falei: Você é o Caio não é? E abriu um sorriso e acenou com a cabeca que sim. O que que você tá fazendo aqui? O que aconteceu com você? Ele falou: "O senhor cuidou de mim na Cristolândia eu me recuperei, vim para cá porque eu sou dessa cidade, voltei para casa conheci uma mulher e restaurei minha vida, só que a mulher me abandonou me largou e me tirou tudo que eu tinha. Então eu voltei a beber e estou nas ruas de novo." Perguntei a ele se ele já tinha almoçado ele falou que não e que estava acompanhado do primo. Eu me levantei fui até o buffet fiz duas quentinhas bem cheias dei para ele e falei que queria vê-lo na igreja onde eu estaria à noite, que era ali perto de onde estávamos. Ele me abraçou, e disse que ia aparecer lá e que quer ser internado novamente para se recuperar.

Na volta pra casa, com as mãos ao volante, fiquei pensando naquele rapaz, silencioso pedi a Deus que olhasse por ele. Fiquei pensando como é importante fazer o bem às pessoas. Às vezes não temos a dimensão que uma boa ação pode ter e como pode marcar a vida de uma pessoa.
Caio tinha voltado pras ruas, infelizmente, mas na sua memória o meu rosto e o que eu fiz por ele não tinha se apagado, mesmo passando tanto tempo.

Coisas como essas marcam a vida da gente e nos impulsiona a continuar fazendo. O sucesso final de nosso "fazer o bem" não depende de nós. Fazer o bem não necessariamente quer dizer que aquela pessoa nunca mais terá problema, mas fazer o bem marca a vida de quem fez e de quem recebeu.
Que essa história possa estimular você a  também fazer o bem sem esperar nada em troca.


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