A Rosa e o Jardineiro

E o vento a trouxe...
Era apenas uma flor no meio de tantas, o perfume que exalava não era diferente das demais flores, sua cor também não era diferente das demais, sua história, ímpar mas ao mesmo tempo igual a tantas outras... mas havia naquela flor algo de especial, algo que marcaria o jardineiro pra sempre.

Já havia passado as águas de março e com elas o verão fora embora por aquele ano. O outono começava a chegar quando o jardineiro foi contratado para cuidar daquele jardim. com muito cuidado ele foi podando todas as plantinhas, tirando aquelas que atrapalhavam o crescimento de outras, foi limpando a terra. Havia em sua mente um projeto para se fazer naquele jardim e delicadamente ele foi cuidando de parte, de cada planta, de cada flor.

Aquela flor, até então, não muito especial para ele, não era diferente das demais, mas tinha um toque singular, tinha um olhar diferente para aquele jardineiro, acreditava que um dia ele poderia cuidar dela de forma diferente, como um bonsaísta vai colocando arames em volta dos galhos e das folhas, com extremo cuidado para que cada uma alcance sua beleza máxima, ela nutria o desejo de ser meticulosamente cuidada por ele, mas também de oferecer a ele toda a exuberância de sua natureza.

O tempo foi passando, o jardim cada vez mais lindo, os perfumes eram sentidos em todos os lugares, por todas as pessoas que passavam perto. Quem sentia aquele perfume sabia que elas exalavam o resultado de um cuidado de alguém que as amava.

Depois de muito tempo aquele jardineiro começou a perceber aquela flor de forma diferente, ele via que ela desabrochava ao toque dele, e por mais que passasse verões, outonos, invernos e primaveras ela continuava ali, dedicando a ele sua cor, seu perfume e tudo ais que uma lida rosa pode oferecer.
O jardineiro, apesar de um mestre na arte da jardinagem, pouco sabia sobre outras áreas, principalmente no tocante ao valor daquilo que ela oferecia. havia um orgulho imaturo nele que o incapacitava de perceber que o valor da flor tem mais a ver com sua natureza do que com o trabalho feito por ele.

Por mais louco que pareça, ele não pensava no fato de que, se tirada daquele jardim, mesmo que para embelezar seu vaso em casa, aquela flor teria prazo de validade. Mesmo assim ele a levou e o tempo foi passando, e ele sem que percebesse foi perdendo-a, ela foi morrendo por falta de cuidado, por falta de uma outra terra para ser plantada. Até que um dia ele encantado por outras flores, com seus perfumes e cores, deixou de perceber o quanto sua florzinha iluminava sua vida, e mesmo de forma indireta deixou que ela morresse aos poucos. Um dia achegar em casa, suas pétalas estavam murchas, sem brilho, sem perfume, sem forças...
E o vento levou... levou suas pétalas, uma a uma foi indo embora caídas pelo chão,
Pouco tempo depois, mesmo cercado por outras flores, o jardineiro sentia falta daquela, que por anos dedicou a ele toda sua vitalidade, todo seu perfume, e a exuberância de sua cor. De vez em quando  esse jardineiro ainda passa na frente de casas com seus jardins e ainda lembra daquela singela rosa, mesmo sabendo que ao morrer suas sementes voaram e ela renasceu em outro jardim bem longe dele. A saudade nunca o abandonou, assim como o sentimento de que podia ter pedido perdão. Aquela florzinha ainda vive em sua memória. E ele, com suas mãos calejadas pelo tempo, certifica-se de ter aprendido a lição, mas com um enorme sentimento gratidão pela história que ficou e pelos momentos felizes que partilharam!